Por Miguel Manso
"Mas, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes?"
- (João 8:45-47)
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" - (João 8:32)
Dedico este artigo ao nosso querido amigo e companheiro Bento Guerreiro - Diretor de Comunicação da EngD, que lutou com bravura pela Verdade, pela Democracia e Justiça e enfrentou a morte lutando.
Segue conosco sempre, até a Vitória, Bento!
Vivemos em uma era em que a construção de "realidades paralelas" tem sido amplamente utilizada como ferramenta política.
Falsas versões dos fatos, disseminadas pelas elites dominantes, são empregadas para criar inimigos fictícios e fomentar o medo, desviando a atenção da população dos verdadeiros problemas estruturais e perpetuando a dominação econômica e social e agravando ambos.
A técnica não é nova, mas foi amplificada com a proliferação das redes sociais e da comunicação instantânea pela utilização dos recursos neuro científicos e de inteligência artificial pelos aparatos militares e as forças de segurança privadas das mega corporações, como a manipulação das redes sociais, por exemplo de Elon Musk e nas eleições americanas com Steve Banon, dois especialistas na construção destas "realidades paralelas" e "gabinetes do ódio" e capazes de mover bilhões para esta finalidade.
O treinamento e uso intensivo, abusivo e sofisticado de ferramentas de comunicação, inteligência artificial e segmentação social, de análise comportamental, extraída dos bancos de dados sem autorização dos usuários nas redes, e que decifram, não apenas preferencias comerciais para otimizar vendas e altos ganhos, mas todos os medos, inseguranças e fragilidades neuro emocionais da sociedade, dos grupos sociais e de cada cidadão, para fins de manipulação nas campanhas políticas e ações militares.
O fascismo, em especial, exacerba essa forma de manipulação, utilizando-se da violência simbólica e física para fomentar a figura de um líder mítico, sem caráter e sem limites, que afronta as leis, os juízes e as instituições de estado, a ética e os valores democráticos, para se exibir capaz de "proteger" as pessoas de "inimigos e perigos" inexistentes e inventados, quanto eles próprios são a verdadeira ameaça a sociedade e os melhores valores humanos.
O fascismo se alimenta da idéia de que a força bruta e o seu autoritarismo são legítimos diante das "ameaças da realidade paralela" e as apresenta como única forma eficaz de "proteger a sociedade" das ameaças por eles inventadas, imaginárias e exageradas, ao mesmo tempo em que desacreditam a democracia, a política racional, a ciência e o debate público.
O fascismo apoia suas "realidades paralelas" em uma característica profunda das nossas defesas neuro emocionais e psicológicas - a dissonância cognitiva - que é um fenômeno psicológico que ocorre quando uma pessoa enfrenta informações ou situações que entram em conflito com suas crenças, valores ou conhecimentos pré existentes.
Esse desconforto mental pode levar à rejeição ou distorção das novas informações da verdadeira realidade, para preservar (CONSERVAR) uma visão de mundo coerente e confortável. Daí a força do discurso CONSERVADOR.
No contexto da crença em "realidades paralelas" — aquelas criadas por desinformação, teorias da conspiração ou narrativas manipuladoras — a dissonância cognitiva desempenha um papel central, pois ajuda a explicar por que muitas pessoas preferem aderir a versões distorcidas da realidade, mesmo quando confrontadas com evidências verdadeira e contrárias.
Como a Dissonância Cognitiva Alimenta a Crença em Realidades Paralelas
Evitar o Desconforto Psicológico Quando alguém é exposto a uma realidade que contradiz suas crenças profundas, a dissonância cognitiva gera um forte desconforto mental. Em vez de ajustar suas crenças para alinhar com as novas informações, o indivíduo pode preferir rejeitar a realidade e adotar explicações alternativas, que, embora irreais ou distorcidas, são mais consistentes com suas crenças preexistentes. Isso permite manter uma sensação de coerência interna e, portanto, de conforto emocional momentâneo e psicológico, mesmo que as as consequências futuras cobrem um alto preço a quem nao quer ver a realidade.
Por exemplo, uma pessoa que acredita firmemente em uma teoria da conspiração, como a negação de eventos históricos amplamente comprovados, pode resistir a evidências claras que desmentem sua crença, optando por aceitar uma narrativa paralela que seja menos conflitante com sua visão de mundo.
Proteção da Identidade e do Grupo Muitas crenças, especialmente as religiosas, políticas e ideológicas, estão profundamente ligadas à identidade pessoal e ao pertencimento a um grupo. Quando a realidade desafia essas crenças, a dissonância cognitiva também ameaça a identidade da pessoa e seu status dentro do grupo. A aceitação de uma realidade que contradiz o grupo pode levar à alienação e até ao ostracismo social. Para evitar esse rompimento, os indivíduos preferem aderir a narrativas alternativas e realidades paralelas, mesmo que elas sejam absurdas.
Grupos extremistas e movimentos autoritários frequentemente exploram essa dinâmica, oferecendo uma versão manipulada da realidade que fortalece o sentimento de pertencimento e protege os membros do grupo contra a dissonância gerada pela exposição a informações conflitantes.
Confirmação de Crenças Existentes A dissonância cognitiva também motiva as pessoas a buscar informações que confirmem suas crenças e a evitar ou desconsiderar informações que as desafiem. Isso é conhecido como viés de confirmação. No ambiente contemporâneo, amplamente dominado pelas redes sociais e por algoritmos que reforçam preferências pré-existentes, é fácil para as pessoas se cercarem de fontes de informação que sustentam suas realidades paralelas. Essa bolha de informações cria um ciclo de retroalimentação que protege as crenças errôneas da dissonância cognitiva, ao mesmo tempo em que isola os indivíduos das realidades objetivas.
Racionalização das Contradições Mesmo quando confrontados com evidências irrefutáveis contra uma realidade paralela, os indivíduos podem recorrer à racionalização para minimizar a dissonância. Eles criam justificativas que tornam as informações conflitantes aceitáveis dentro de sua estrutura mental, por mais contraditórias que sejam. Isso pode incluir argumentos como "as evidências foram manipuladas", "há uma conspiração para esconder a verdade" ou "o líder sabe mais do que as outras pessoas".
Essa racionalização permite que as pessoas mantenham suas crenças sem a necessidade de confrontar a verdade, perpetuando a adesão a realidades paralelas.
Por que a Dissonância Cognitiva é Tão Poderosa na Criação de Realidades Paralelas
Emoções Fortes Superam a Lógica A dissonância cognitiva é, muitas vezes, alimentada por fortes emoções — como medo, insegurança ou raiva — que inibem a capacidade de raciocínio lógico. Quando líderes extremistas ou narrativas manipuladoras exploram essas emoções, como o medo de uma crise iminente ou a raiva contra inimigos imaginados, o apelo emocional pode superar a lógica, levando os indivíduos a se refugiarem em uma versão simplificada e falsa da realidade.
Simplificação de uma Realidade Complexa Realidades paralelas muitas vezes oferecem explicações simplistas para problemas complexos, o que pode ser atraente para pessoas que se sentem sobrecarregadas pela complexidade do mundo real. A dissonância cognitiva surge quando essas explicações simplistas entram em conflito com o entendimento mais complexo, mas, em vez de lidar com a complexidade, o indivíduo pode optar por uma realidade paralela que oferece uma solução "clara" e fácil de entender, mesmo que seja incorreta.
Manipulação por Líderes Autoritários Líderes extremistas muitas vezes exploram a dissonância cognitiva para manter o controle sobre seus seguidores. Eles apresentam versões paralelas da realidade que reforçam a ideia de que o líder é a única fonte de verdade, enquanto todas as outras fontes de informação são falsas ou corrompidas. Ao fazer isso, eles protegem seus seguidores da dissonância cognitiva que poderia surgir ao serem confrontados com a verdade, ao mesmo tempo em que reforçam a lealdade ao líder e ao grupo.
Para combater essa dinâmica, é essencial promover o pensamento crítico, criar ambientes de diálogo e fortalecer as instituições que fornecem informações confiáveis, desmantelar as realidades paralelas e restaurar a confiança na verdade e no debate democrático.
Para desmontar essas "realidades paralelas e seus mitos", é preciso revelar as falácias por trás dessas narrativas e promover valores democráticos como o diálogo, a cooperação e o respeito ao Estado de Direito.
Desmistificar os Mitos do "Perigo Existencial": O fascismo muitas vezes justifica a violência com a ideia de que a sociedade e seus membros estão em um "momento de emergência em sua sobrevivência", onde métodos drásticos e violentos são necessários.
Desmascarar essa ideia requer debates públicos e divulgação de informações que comprovem que esses "momentos de crise" são frequentemente fabricados ou exacerbados e manipulados para concentrar poder.
Neste artigo, relacionaremos essas dinâmicas com os conceitos discutidos no campo da neurociência, neurolinguística e psicanálise, além de explorar caminhos eficazes de combater e superar tais práticas intimidatórias.
1. A Construção de Realidades Paralelas: Manipulação do Medo e Alienação Política
A criação de "realidades paralelas" pelas elites tem como principal objetivo afastar a população da política, reduzindo seu potencial de agir como protagonista na transformação da sociedade. Isso é feito por meio da manipulação do medo e da disseminação de falsas ameaças, como inimigos externos, crises exageradas ou a fabricação de "outros" grupos que são pintados como perigosos para a ordem social ou econômica. Seus lideres se apresentam como apolíticos e com aversão a política, para tomar o poder político de forma absoluta em suas mãos.
Historicamente, essa prática tem sido uma ferramenta momentaneamente eficaz para manter e prolongar privilégios, impedir que a população questione realmente a estrutura de poder vigente, destruir forças produtivas e conquistas sociais, disseminar a escassez, o caos e usá-los para, centralmente concentrar mais a riqueza e o poder e disseminar mais miséria, mais instabilidade e insegurança e desunião social.
O que é apresentado como anti-sistema é o na verdade o método mais bárbaro utlizado para perpetuar as crueldades do sistema e aprofundá-las, eliminando os mais fracos, assassinando seus oponentes, extinguindo direitos básicos, banalizando o uso da violência política e policial para concentrar riqueza, poder e retroceder nas conquistas sociais e civilizatórias.
A criação de bodes expiatórios (grupos marginalizados, imigrantes, minorias, opositores políticos) é amplamente utilizada para desviar o foco dos reais problemas, como a concentração de riqueza e a desigualdade social. Ao oferecer uma "ameaça" externa ou interna, as elites conseguem justificar políticas de controle e repressão, ao mesmo tempo em que fragilizam a solidariedade social e inibem a mobilização e participação consciente popular, estimulando os linchamentos sem justiça e comprometendo a todos com seus crimes.
Faz parte da estratégia do fascismo provocar grupos sociais afrontando e utilizando o rascismo, a xenofobia, os preconceitos contra as mulheres e grupos religiosos minoritários, para dividir e minar a capacidade de união, a empatia e paralisar a reação social. Inicialmente movem perseguições contra determinado grupo social especifico, judeus, muçulmanos, cristãos, comunistas, intelectuais, etc... e logo em seguida expandem a perseguição a qualquer um que questione o poder concentrado do líder fascista e seu regime de poder concentrado.
Os líderes "anti-sistema", do fascismo e da ultra direita, são na verdade anti-civilizatórios e surgem e são fartamente patrocinados para perpetuar e aprofundar a crueldade do sistema de dominação do grande capital financeiro, das mega corporações e sua indústria bélica e de repressão sobre o povo e as Nações periféricas que lutam por seu desenvolvimento.
O Fascismo e a Figura do Líder Mítico: A Exacerbação da Intimidação
O fascismo, como forma extrema de dominação, das forças mais crueis e degeneradas, exacerbam a criação de "realidades paralelas", em que distorcem os fatos e amplificam os medos e a insegurança social. Ele se apoia em táticas de intimidação e provocação para estabelecer uma atmosfera de medo generalizado.
Ao moldar a figura de um líder carismático, forte e mitológico, ligado a religiosidade e a poderes divinos dos "escolhidos", o fascismo reforça a idéia de que a sociedade está sob uma ameaça constante e que apenas esse líder pode livrar o povo do "perigo" por eles inventado. Essa narrativa e propaganda ideológica é estrategicamente construída para legitimar a violência e a repressão, sem limites e sem justiça, contra qualquer dissidência ou oposição política.
A figura do líder fascista é vista como um salvador providencial, cujas ações bárbaras e desumanas são justificadas sob o pretexto de "proteger" a nação ou os "verdadeiros e fieis" cidadãos.
O fascismo utiliza táticas de desumanização dos seus adversários e dos grupos que se opõem ao seu regime tirânico, criando uma polarização social extrema, onde qualquer crítica ao líder ou ao sistema é imediatamente vista como uma ameaça à própria sobrevivência da comunidade. Assim, as práticas fascistas não apenas intimidam a população, mas também criam um ambiente de cumplicidade no qual os atos de brutalidade são aceitos como necessários.
Demonstrar a Inutilidade e os Danos do Uso da Força
O fascismo promove a força como a única maneira de lidar com os problemas da sociedade, mas a história demonstra que o uso desmedido da violência leva à destruição em massa de vidas, desagregação e divisão social, econômica e política, e não à real resolução de problemas.
Estratégia:
Uso de Exemplos Históricos: Expor os exemplos históricos de regimes fascistas e autoritários que, ao usarem a violência como principal ferramenta de controle, mergulharam seus países no caos, na repressão, na guerra e, em muitos casos, na ruína. Alemanha Nazista, Itália Fascista e outras experiências de regimes extremistas mostraram como a violência e a força levaram à desintegração das sociedades e à perda de liberdades, ao invés de protegê-las.
Mostrar Evidências dos Danos Contemporâneos: A violência usada por regimes autoritários ou fascistas modernos pode ser desmontada ao se mostrar os efeitos destrutivos em suas economias, em suas liberdades civis e nos direitos humanos. Estudos de caso, documentários e relatórios de direitos humanos sobre os danos causados pelo uso desmedido da força em países sob governos autoritários são instrumentos poderosos para essa desconstrução.
3. Fortalecer o Valor da Democracia e do Debate Político
Líderes fascistas tentam enfraquecer a confiança na democracia, caracterizando-a como ineficaz, lenta e incapaz de lidar com os desafios da sociedade. Em contraste, glorificam a força e o autoritarismo como respostas rápidas e decisivas. Para combater essa ideia, é necessário reforçar o valor da democracia e a racionalidade do debate político.
Estratégia:
Educação Cívica e Política: Criar programas de educação cívica que ensinem sobre os benefícios da democracia, mostrando como as sociedades democráticas promovem o debate, a diversidade de opiniões e soluções colaborativas para os problemas. Mostrar que a força e o autoritarismo sufocam a pluralidade de ideias e, no longo prazo, causam mais problemas do que resolvem.
Promover a Eficácia de Soluções Políticas e Diplomáticas: Mostrar exemplos concretos de como a política racional, o debate democrático e a cooperação internacional resolveram problemas complexos sem o uso da força. Isso pode incluir exemplos de conflitos diplomáticos resolvidos pacificamente, reformas econômicas bem-sucedidas ou avanços sociais alcançados por meio de diálogo e consenso.
4. Relação com a base da Neurociência, Neurolinguística e Psicanálise
A neurociência, a neurolinguística e a psicanálise, em geral apropriados pelos analistas dos serviços de inteligência e "think tanks", associações empresariais que as promovem e organizações "não governamentais" que as disseminam, oferecem ferramentas importantes para entender por que as pessoas são suscetíveis à manipulação do medo e à negação da realidade. O fascismo e as elites utilizam com eficiência essas vulnerabilidades humanas de maneira calculada para manter o controle social.
- Neurociência: A polarização que cria uma dualidade falsificada entre o bem e o mal, o salvador e o inimigo da coletividade e a criação de "realidades paralelas" com base nessas falsificações exacerbam a exploração do medo e estão diretamente relacionadas aos mecanismos inconscientes e instintivos de ativação do sistema límbico e da amígdala. O fascismo e as elites exploram esse mecanismo natural de defesa do cérebro para manter as massas em um estado constante de alerta e ansiedade, dificultando que as pessoas possam processar racionalmente os fatos. Ao manter a população em um estado contínuo de medo, as estruturas de poder inibem a capacidade crítica e racional de questionar a realidade imposta.
- Neurolinguística: A linguagem e a simbologia desempenham um papel crucial na construção dessas "realidades paralelas". Termos repetidos, como "inimigo", "crise" ou "salvador". "mito", criam uma narrativa emocional que estrutura o pensamento coletivo. A manipulação do discurso público é uma estratégia fundamental para perpetuar as mentiras e desinformações.
Ao desarticular a linguagem das massas, reconfigurando o que é percebido como verdade ou mentira, o fascismo e as elites constroem um ambiente onde o medo e a submissão prosperam e a polarização se impõe.
- Psicanálise: No âmbito psicanalítico, o fascismo explora a culpa, o instinto de sobreviência, a segurança da prole e o inconsciente coletivo, aproveitando-se dos mecanismos de defesa do ego, como a projeção e a negação. Ao criar inimigos externos e internos, o regime fascista oferece um "outro" para canalizar as ansiedades e frustrações inconscientes da população.
Essa estratégia cria uma falsa coesão social, na qual o medo e a violência são projetados em grupos alvos, permitindo que a realidade repressiva seja aceita como uma necessidade.
5. Como Combater e Superar as Práticas Intimidatórias
Quando o mecanismo inconsciente que dispara a química do medo inibe a racionalidade e subordina a mente aos mecanismos de fuga ou submissão a líderes inventados como invencíveis, estamos diante de um processo psicológico profundo que envolve respostas emocionais automáticas.
No entanto, é possível trazer as pessoas de volta à realidade por meio de uma abordagem que integra aspectos neurobiológicos, psicológicos e sociais.
Aqui estão algumas estratégias baseadas em neurociência, psicoterapia e práticas sociais que podem ajudar a superar essa dominação do medo:
Diante desse cenário, combater as táticas de intimidação e manipulação do medo exige uma abordagem multidimensional que envolva o enfrentamento com coragem e conscientização política, educação crítica e resistência ativa.
Desconstruir a Figura do "Líder Invencível"
Líderes autoritários e mitificados constroem sua imagem em torno de uma suposta invencibilidade e da ideia de que são os únicos capazes de resolver problemas complexos. Para quebrar essa ilusão, é preciso desmistificar essa figura pública e enfatizar a importância da ação coletiva e do poder da população.
Estratégia:
Expor a Fragilidade dos Líderes Autocráticos: Utilizar investigações jornalísticas, documentários e análises críticas para expor a vulnerabilidade dos líderes que se apresentam como invencíveis. Mostrando suas contradições, fraquezas e falhas ao longo do tempo, é possível minar a imagem de onipotência que eles cultivam.
Fortalecimento de Líderes Democráticos e Colaborativos: Criar narrativas que destaquem o sucesso de líderes e movimentos democráticos, colaborativos e participativos. Mostrar à população que as soluções para os problemas não dependem de uma figura autoritária, mas da capacidade coletiva de agir, pensar e decidir democraticamente.
Reforçar a Confiança Social e a Coesão Comunitária
O medo prospera em ambientes de isolamento e fragmentação social. Populações desconectadas tendem a ser mais vulneráveis a lideranças manipuladoras, porque a solidão e a desconfiança os tornam mais suscetíveis ao controle emocional. Reforçar a coesão social é fundamental para combater esse efeito.
Estratégia:
Criar Espaços de Encontro Comunitário: Incentivar a criação de espaços físicos e virtuais onde as pessoas possam se reunir para discutir os problemas sociais e políticos, sem o filtro da manipulação midiática. Esses espaços podem incluir fóruns comunitários, assembleias populares e iniciativas de colaboração digital, onde a escuta ativa e o diálogo sejam priorizados.
Campanhas de Solidariedade e Ação Coletiva: Criar campanhas que promovam a solidariedade em momentos de crise, onde a resposta da população é organizada em torno da ajuda mútua e da colaboração — por exemplo, em situações de crise econômica ou de saúde. Quando as pessoas experimentam a força da comunidade, sentem-se menos dependentes de soluções autoritárias.
Exposição Gradual à Realidade
Aqueles que estão imersos em uma narrativa de medo muitas vezes não conseguem processar a realidade de forma imediata, devido à sobrecarga emocional. Uma maneira de trazê-los de volta à realidade é expô-los gradualmente a informações e situações que contestam suas crenças sem gerar resistência imediata.
Estratégia:
Técnica da Exposição Gradual à Realidade: Similar ao tratamento de fobias, a população pode ser exposta gradualmente a informações que contradizem suas crenças e narrativas de medo, permitindo que a resistência seja diminuída ao longo do tempo. Isso envolve a disseminação de informações em pequenos passos, começando por fatos simples e inegáveis, até alcançar pontos mais complexos e polêmicos.
Apoio de Influenciadores Locais: A utilização de líderes comunitários ou influenciadores locais, que já possuem a confiança da população, pode facilitar essa transição. Eles podem mediar a exposição à nova realidade de uma forma mais amigável e menos ameaçadora.
Incentivar o Engajamento Político e Social
Parte da dominação baseada no medo envolve desestimular a participação política ativa, fazendo com que as pessoas se sintam impotentes e dependentes de figuras autoritárias. Promover o engajamento ativo na vida pública é uma maneira eficaz de combater essa passividade induzida.
Estratégia:
Movimentos de Participação Popular: Organizar e apoiar movimentos populares que envolvam a participação ativa da população em decisões políticas e sociais, como conselhos comunitários, assembleias populares e orçamentos participativos. Isso dá às pessoas a experiência de controle e responsabilidade sobre seu próprio destino, reduzindo a dependência de líderes autocráticos.
Campanhas de Educação Política: Iniciar campanhas que eduquem a população sobre como o sistema político funciona, seus direitos como cidadãos e como eles podem influenciar diretamente as políticas públicas. Quanto mais conscientes as pessoas estiverem sobre seu papel na democracia, menos suscetíveis serão às narrativas de medo e dependência de líderes autoritários.
Trazer a sociedade de volta à realidade quando o medo domina e líderes inventados são glorificados como invencíveis exige um esforço contínuo de regulação emocional coletiva, reestruturação do discurso público e fortalecimento da educação crítica e cívica. Ao desmistificar os líderes, desarmar as narrativas de medo e fortalecer a coesão social, é possível recuperar o poder racional da população e restaurar sua capacidade de participar ativamente da construção de uma realidade mais democrática e justa.
A seguir, exploramos algumas das maneiras mais eficazes de superar essas práticas:
- Educação Crítica e Consciência Política: O primeiro passo para combater a criação de "realidades paralelas" é promover uma educação crítica que ensine as pessoas a questionarem as informações que recebem. Desenvolver habilidades de pensamento crítico e ceticismo saudável permite que os cidadãos identifiquem quando estão sendo manipulados por narrativas falsas. Isso pode ser feito por meio da democratização do acesso ao conhecimento e da criação de espaços de debate público onde diferentes perspectivas possam ser discutidas livremente.
- Desmantelar o Discurso de Ódio e Desinformação: A batalha contra o fascismo e a dominação das elites passa pelo combate à desinformação e ao discurso de ódio que sustentam suas narrativas. Políticas de regulação de mídia e campanhas de conscientização digital são ferramentas importantes para conter a disseminação de notícias falsas e manipulação midiática. Além disso, o fortalecimento da imprensa livre e independente é fundamental para garantir que a verdade dos fatos seja acessível a todos.
- Resiliência Emocional e Social: Como discutido anteriormente, práticas que promovem a regulação emocional, técnicas de enfrentamento emocional, ajudam as pessoas a não sucumbirem ao medo. A construção de redes de solidariedade e apoio social também fortalece a resistência contra a intimidação e a violência. Movimentos coletivos que promovem o diálogo e a cooperação ajudam a desmantelar as divisões sociais e a construir uma consciência de classe crítica.
- Organização e Mobilização Popular: A história nos mostra que a mobilização popular é uma das formas mais eficazes de enfrentar regimes autoritários e fascistas. Organizar-se politicamente, formar coalizões de base e engajar-se em ações coletivas são formas essenciais de resistência. A participação ativa em movimentos sociais e políticos oferece uma alternativa ao isolamento e à alienação, permitindo que as pessoas tomem controle de seu destino e rejeitem as narrativas de medo impostas pelas elites.
A imprescíndivel ofensiva ideológica desempenha um papel crucial no combate à tentativa de intimidar a sociedade por meio de narrativas fascistas e autoritárias, que buscam impor o medo e a violência como soluções.
A ofensiva ideológica age como uma resposta estratégica e articulada para desmascarar as manipulações ideológicas e falsidades e restaurar o espaço da razão, da democracia e do debate público.
Ao contrário da mera reação ou resistência passiva, a ofensiva ideológica visa ocupar ativamente o terreno discursivo, político e cultural, desafiando diretamente as premissas e práticas usadas por líderes autoritários.
Aqui estão algumas idéias de como a ofensiva ideológica contribui para esse combate:
1. Desconstrução das Narrativas do Medo
A base da intimidação fascista está na criação de inimigos fictícios e na promoção do medo como instrumento de controle social. Líderes extremistas constroem uma ideologia que associa esses "inimigos" ao caos, à violência e à destruição, justificando, assim, a repressão e o uso da força. A ofensiva ideológica deve, antes de tudo, desconstruir essas narrativas.
Ações:
Divulgação de Fatos: Combater desinformação com dados, evidências e fatos que contradigam as mentiras e manipulações usadas para sustentar o medo. Isso pode incluir investigações jornalísticas, pesquisas acadêmicas e campanhas educativas para esclarecer o público.
Expor a Real Intenção das Narrativas de Medo: É importante revelar que o medo disseminado pelos fascistas tem o objetivo de desviar a atenção das verdadeiras questões sociais, políticas e econômicas, e de concentrar o poder em um líder ou regime autoritário. Essa exposição pode ser feita através de análises críticas e debates públicos.
2. Reafirmação dos Valores Democráticos
A ofensiva ideológica precisa se concentrar na reafirmação e difusão dos valores democráticos, como o respeito ao Estado de Direito, à pluralidade, ao diálogo e às liberdades civis. Esses valores são sistematicamente atacados por líderes autoritários que buscam desmoralizar as instituições democráticas e substituí-las por soluções autoritárias.
Ações:
Campanhas de Educação Política: Promover a educação cívica e política para que as pessoas compreendam melhor como as instituições democráticas funcionam e como o diálogo, a negociação e o respeito mútuo são fundamentais para resolver os problemas sociais de maneira pacífica e justa.
Fortalecimento do Debate Público: Organizar fóruns, seminários e debates públicos que envolvam diferentes setores da sociedade, para que as pessoas possam discutir e propor soluções para os problemas sociais e econômicos de forma construtiva. A democracia prospera em um ambiente de debate livre, ao contrário da repressão autoritária.
3. Criação de Contra-Narrativas Poderosas
Enquanto os líderes extremistas criam mitos de líderes invencíveis e soluções simplistas baseadas na violência, a ofensiva ideológica deve se concentrar em construir narrativas alternativas e realistas que promovam a cooperação, a solidariedade e a confiança nas soluções políticas e sociais democráticas.
Ações:
Heróis da Democracia e da Paz: A ofensiva ideológica pode destacar figuras históricas e contemporâneas que, por meio do diálogo, da diplomacia e da cooperação, conseguiram enfrentar crises e promover mudanças sociais sem recorrer à violência. Isso cria uma narrativa alternativa ao culto à força e ao autoritarismo.
Desenvolvimento de Narrativas Positivas: Em vez de apenas reagir às narrativas do medo, é fundamental promover visões positivas de futuro, onde a sociedade resolve seus problemas por meio da inclusão, da justiça social e da equidade. Construir essas narrativas envolve engajar artistas, escritores, acadêmicos e comunicadores que possam inspirar a sociedade com histórias de esperança e progresso.
4. Exposição das Contradições do Discurso Autoritário
Uma das características dos regimes fascistas é a hipocrisia interna: líderes que promovem a força como solução muitas vezes evitam o próprio sacrifício e abusam de seu poder em benefício próprio. A ofensiva ideológica pode e deve expor essas contradições para minar a legitimidade desses líderes.
Ações:
Investigações Críticas: O uso de reportagens investigativas, análises detalhadas e críticas públicas para expor as inconsistências e os interesses ocultos dos líderes autoritários. Por exemplo, muitos líderes que pregam austeridade para a população acumulam grandes fortunas ou abusam de seus privilégios.
Desmitificação do Poder Personalista: Desmascarar o mito do "líder salvador" como uma estratégia política e econômica de dominação. Isso pode ser feito mostrando como esses líderes não estão interessados no bem-estar coletivo, mas apenas em manter o poder e seus próprios privilégios.
5. Promover a Racionalidade e o Debate Informado
O fascismo prospera no ambiente de impulsos emocionais, polarização e irracionalidade. Ao apresentar a força como solução, esses líderes desqualificam o valor do debate racional e da política. A ofensiva ideológica precisa devolver o valor da racionalidade, do pensamento crítico e da busca por soluções baseadas em fatos.
Ações:
Formação de Espaços de Pensamento Crítico: Criar e fortalecer espaços onde o pensamento crítico, a análise racional e o debate informado possam ocorrer. Universidades, think tanks e organizações civis podem ter um papel ativo nisso, promovendo palestras, debates e publicações que incentivem a sociedade a refletir e debater questões complexas de maneira aprofundada.
Difusão do Conhecimento: Levar ao público explicações claras e acessíveis sobre temas complexos, como economia, direitos civis, política pública, para que as pessoas possam participar do debate de forma informada e consciente. Isso também envolve combater as simplificações perigosas que líderes autoritários utilizam para manipular a sociedade.
6. Engajamento da Sociedade Civil e Movimentos Sociais
A ofensiva ideológica contra o autoritarismo não pode ser limitada ao campo teórico ou acadêmico; deve se traduzir em ação concreta, engajando a sociedade civil, movimentos sociais, sindicatos e outras organizações. Essas entidades desempenham um papel vital em mobilizar a resistência e criar alternativas concretas para as populações intimidadas.
Ações:
Fortalecimento de Movimentos de Base: Apoiar e fortalecer movimentos de base que defendem direitos sociais, trabalhistas, ambientais e de minorias, conectando suas lutas com a defesa da democracia. Movimentos sociais têm a capacidade de mobilizar grandes grupos de pessoas e trazer a resistência ao autoritarismo para o cotidiano da população.
Apoio ao Jornalismo Livre e Independente: Em regimes que utilizam a força e a manipulação, a imprensa é frequentemente silenciada ou cooptada. A ofensiva ideológica deve incluir o apoio ao jornalismo independente, que tem o papel crucial de expor abusos de poder, informar a sociedade e garantir a transparência das ações governamentais.
Conclusão
A ofensiva ideológica é uma estratégia vital para combater a intimidação fascista e autoritária, atuando de maneira proativa para desconstruir mitos de força, expor contradições dos líderes extremistas e reafirmar os valores democráticos. Ela envolve não apenas a crítica e a denúncia, mas também a construção de contra-narrativas poderosas, a educação política e o engajamento social. O objetivo central é restabelecer a confiança na política racional, na democracia e no diálogo como os caminhos mais eficazes e justos para enfrentar os problemas sociais, em contraste com o uso da força e da repressão.
A criação de realidades paralelas e a manipulação do medo são estratégias poderosas utilizadas pelas elites e regimes fascistas para manter sua dominação e impedir que a população questione a realidade que lhes é imposta. No entanto, a neurociência, a neurolinguística e a psicanálise nos mostram que essas vulnerabilidades podem ser superadas por meio da conscientização, da resistência emocional e da ação política organizada.
Ao promover uma cultura de questionamento, mobilização e engajamento social e político, a resiliência e a solidariedade, podemos desmantelar essas táticas de intimidação e avançar em direção a uma sociedade mais justa e democrática, onde o medo não seja a força dominante na vida social.
Miguel Manso
Engenheiro Eletrônico formado pela USP
Especialização em Telecomunicações pela UNICAMP
Especialização em Inteligência Artificial pela UFV
Coordenador de Políticas Públicas da EngD
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