José Manoel Ferreira Gonçalves
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A Lava Jato não combateu a corrupção, mas destruiu empresas nacionais e abriu espaço para concorrentes estrangeiros. Ao invés de punir indivíduos sem afetar a atividade produtiva, como fazem países desenvolvidos, a operação desmontou conglomerados inteiros, gerando desemprego em massa e desestruturação da cadeia produtiva.
Estima-se que a Lava Jato tenha causado a perda de cerca de 4,4 milhões de empregos e reduzido o PIB brasileiro em aproximadamente R$ 172 bilhões.
Empresas estrangeiras, que antes enfrentavam forte concorrência das empreiteiras brasileiras em licitações internacionais, passaram a dominar o mercado, beneficiadas pelo vácuo deixado pela destruição das nossas empresas.
A engenharia nacional, que já foi referência em obras de infraestrutura dentro e fora do Brasil, perdeu competitividade. Projetos estratégicos foram interrompidos, investimentos foram cancelados e profissionais altamente qualificados foram empurrados para o desemprego ou para atividades informais. Esse desmonte foi um dos maiores retrocessos econômicos da história recente do país.
Bolsonaro, o entreguismo e a venda de refinarias
Jair Bolsonaro não apenas manteve a agenda de destruição iniciada por Temer – ele a aprofundou. Durante seu governo, a Petrobras passou por um processo de fatiamento, com refinarias vendidas a preços baixos e sem qualquer preocupação com o impacto na economia nacional.
O governo Bolsonaro vendeu refinarias estratégicas, como a RLAM (Refinaria Landulpho Alves), na Bahia, por menos da metade do seu valor real. O resultado foi um aumento nos preços dos combustíveis, já que as refinarias privatizadas passaram a operar sem a política de paridade com o mercado interno.
Além disso, a política de conteúdo local foi praticamente extinta, favorecendo importações de equipamentos e serviços ao invés de estimular a indústria nacional.
O resultado foi o agravamento da desindustrialização, com mais demissões e a perda de capacidade produtiva em setores estratégicos.
Reverter o desmonte e reconstruir a engenharia nacional
Diante desse cenário devastador, é essencial adotar medidas urgentes para reconstruir a engenharia brasileira e reverter os impactos do golpe de 2016 e do governo Bolsonaro. Algumas ações fundamentais incluem:
Recuperação da Petrobras e do pré-sal: Retomar o modelo que prioriza o conteúdo local, garantindo que os investimentos em exploração beneficiem a indústria nacional.
Reestatização das refinarias: Rever as privatizações que prejudicaram a economia e elevaram o preço dos combustíveis.
Fortalecimento da engenharia nacional: Criar políticas industriais que incentivem o desenvolvimento tecnológico e a geração de empregos qualificados.
Investimento em infraestrutura: Retomar projetos estratégicos em transporte, energia e habitação, garantindo que empresas brasileiras sejam protagonistas dessas obras.
Revisão dos danos causados pela Lava Jato: Investigar os impactos da operação e adotar medidas para recuperar setores produtivos prejudicados.
Essas ações são fundamentais para reverter a desindustrialização e reconstruir um setor produtivo forte, capaz de garantir crescimento econômico e soberania nacional.
Reconstruir o Brasil com soberania e desenvolvimento
O desmonte da engenharia brasileira não foi acidental – foi um projeto de desindustrialização imposto por interesses externos e forças políticas entreguistas. O golpe de 2016 e a Lava Jato serviram como instrumentos para fragilizar empresas nacionais e abrir espaço para concorrentes estrangeiros, enquanto Bolsonaro aprofundou essa agenda com privatizações irresponsáveis.
Reverter esse quadro exige um compromisso com o fortalecimento da indústria, a recuperação da Petrobras e o investimento em tecnologia e inovação. O Brasil tem capacidade e conhecimento para retomar seu desenvolvimento industrial e garantir um futuro de soberania e progresso. Basta vontade política para reverter os erros do passado e reconstruir a engenharia nacional como pilar da economia brasileira.
*José Manoel é pós-doutor em Engenharia, jornalista, escritor e advogado, com uma destacada trajetória na defesa de áreas cruciais como transporte, sustentabilidade, habitação, educação, saúde, assistência social, meio ambiente e segurança pública. Ele é o fundador da FerroFrente, uma iniciativa que visa promover o transporte ferroviário de passageiros no Brasil, e da Associação Água Viva, que fortalece a participação da sociedade civil nas decisões do município de Guarujá.
Publicado originalmente em A destruição da engenharia nacional - José Manoel Ferrreira Gonçalves
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