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A relação entre engenharia e democracia

Por Bijoy H Boruah e Raghubir Sharan, New Delhi



O conceito de democracia tem alguma relação com a educação de engenharia? Como soaria no meio acadêmico se um curso fosse proposto com o título “Engenharia e Democracia”?


Precisamente sob este título que um curso interdisciplinar foi recentemente lecionado no Indian Institute of Technology, por dois professores visitantes, um engenheiro e outro da área de humanidades.


O curso começa explicando como a engenharia, da forma como é ensinada atualmente, se tornou um discurso capturado. A educação de engenharia foi dominada, e, portanto, capturada, de um lado pelo discurso da engenharia como ciência e, de outro, pelo interesse comercial e corporativo.


Estas duas influências poderosas têm definido e delimitado o que a engenharia é e o que ela pode ser.


A descoberta desta “captura” da educação de engenharia foi uma surpresa para os alunos. Eles tinham a impressão de que a forma como o comércio e a engenharia ciência determinam o discurso da engenharia é inevitável e apenas uma questão de fato.


A educação em engenharia prepara os indivíduos a serem profissionais praticantes no mundo social. O profissional de engenharia não é unicamente destinado a ser um designer ou projetista de mercadorias da engenharia para o uso social. Ele ou ela deve também participar no processo de distribuição de produtos com um senso criterioso frente às necessidades de transformação tecnológica deste mundo social.


Democracia não é somente um sistema de governança que facilita o processo de alcance do bem-estar e de cumprimento das normas de justiça social. A democracia também contempla as normas de um ideal de vida social. Assim, duas noções inter-relacionadas de democracia são trazidas a luz, a saber, a democracia procedimental (ou um sistema de regras e instituições) e a democracia normativa (ou democracia como uma prática guiada pelas considerações morais de justiça e bem-estar).


O nexo complexo entre democracia procedimental e normativa foi explicado em termos da distinção entre os conceitos hindus de “Niti” e “Nyaya”, explicados pelo professor Amartya Sen em sua apresentação no Memorial Hiren Mukherjee, no Parlamento da Índia (2008). Enquanto Niti significa propriedade organizacional, entendida em termos de arranjos institucionais e regras para governança, Nyaya significa um conceito mais abrangente de justiça realizada – a realização da justiça através de arranjos institucionais e mudanças organizacionais.


A distinção entre Niti e Nyaya é mapeada então na distinção entre democracia procedimental e normativa. A democracia “Niti-centrada” foca nas regras e instituições que fornecem o tipo certo de mecanismo de governança voltado para a justiça social. A democracia Nyaya é voltada para a realização da justiça social – eliminação da injustiça possível de ser eliminada (injustiça removível) – por meio do engajamento de uma razão pública mais ampla.


Enquanto Niti é uma condição necessária para a justiça social, a condição suficiente é o comprometimento com Nyaya. As duas noções se complementam.


Um estudante de engenharia, que entende os nuances aprofundados de “feedback” na melhoria da performance de um sistema, já está bem equipado para compreender o valor da democracia e justiça social, e apreciar a relevância da democracia na educação de engenharia. A prática da engenharia desempenha um papel instrumental fundamental na transformação das condições de vida reais necessárias para uma ordem social justa.


O engenheiro é, portanto, não menos participante da democracia deliberativa, não menos voz da razão pública, do que outros cidadãos que contribuem para o processo de realização da justiça social. Mas esse papel participativo do engenheiro tem se tornado invisível, porque a perspectiva da engenharia tem sido imerecidamente cativa da influência esmagadora da cultura corporativa.


O engenheiro em potencial amparado no ambiente acadêmico-institucional pode não ver muito além do mundo brilhante das multinacionais. Mas o mundo social mais amplo além desse “brilho” é marcadamente preenchido por injustiças que podem ser eliminadas. Ele precisa de uma visão democrática para poder ver essas sardas de injustiça e ser adequadamente motivado para apagar estas manchas de desumanidade.


(Boruah é professor de filosofia no departamento de humanidades e ciências sociais, IIT Delhi e Sharan é professor visitante no IIT Gandhinagar)

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