Alberto Santos Dumont (1873-1932) foi o maior popstar da engenharia e da ciência no mundo no início do século 20 – Albert Einstein o sucedeu. Sua saga tem inspiração na obra de Leonardo da Vinci, bem como na literatura e nos sonhos de Júlio Verne.
Foi no coração da opinião pública ocidental, em Paris, que ele impactou o mundo, ao desenvolver pioneiramente uma trajetória de balões dirigíveis até o maior deles, o 14-Bis – ou Oiseau de Proie (“Ave de Rapina”) –, de 10 metros, com motor de 50 HP. Em 23 de outubro de 1906, no Campo de Bagatelle, rodeado por uma multidão atônita e entusiasmada, alçou voo de 3 metros do solo e venceu uma distância de 60 metros debaixo do céu azul.
Santos Dumont transformou, assim, o eterno sonho milenar da humanidade em realidade. Furou o céu e os ares como os pássaros. Mostrou a força da ciência, da tecnologia e da engenharia para melhorar a vida. Desafiou os mitos e nos mostrou um caminho.
Não fazia nem 20 anos que o Brasil havia abolido a escravidão. Àquela época, sob a 1ª República, sem política econômica e industrial, sem uma única universidade sequer, o País não pode dar sustentação ao desenvolvimento do modelo de avião Demoiselle feito por Santos Dumont.
Isso só foi possível em 1968, 60 anos depois, quando fabricamos no CTA (Centro Técnico de Aeronáutica), em São José dos Campos (SP), nosso primeiro avião nacional, o Bandeirante. No ano seguinte, em 1969, criamos a Embraer, que, em pouco tempo, se transformou na terceira maior indústria aviônica no mundo, mostrando a capacidade dos engenheiros e dos técnicos da engenharia nacional em dominar e desenvolver tecnologias de ponta.
Na comemoração dos 150 anos de nascimento de Santos Dumont, reverenciamos o espírito criador, inventivo e inspirador do povo brasileiro, no artesanato, na cultura e nas artes, no domínio da terra, dos mares e do espaço. Vencido o governo negacionista de Jair Bolsonaro, é preciso instituir cada vez mais políticas públicas para pôr essa capacidade a serviço da reconstrução, da reindustrialização e do desenvolvimento sistemático do País.
O sesquicentenário do “pai da aviação” ocorre às vésperas da 75ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que tem o oportuno tema “Ciência e Democracia para um Brasil Justo e Desenvolvido”. Neste momento singular – em que retomamos o sentido do desenvolvimento, da democracia e da soberania –, o pensamento de grandeza e rebeldia de Santos Dumont desafia a todos para a conquista em todas as áreas de um Brasil à altura das nossas potencialidades.
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