Com 29 participantes, a Engenharia pela Democracia realizou em 26.1.2025 a 1ª Conferência livre Engenharia e Emergência Climática, nos marcos da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
Na abertura do encontro, Ivan Maglio discorreu sobre o papel da engenharia e o desafio da transformação ecológica.
A emergência climática está cada vez mais explicita. Estamos sofrendo suas consequências que são cada vez mais intensas.
1. O ano mais quente da história do planeta em 2024
Em 2024 tivemos um dos anos mais quentes da história do planeta e pela primeira vez ultrapassamos o 1,5º C médio de aquecimento do planeta em relação ao período industrial.
O ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a exceder 1,5°C de aquecimento acima do nível pré-industrial
A temperatura média global foi de 15,10°C, ou 0,72 °C acima da média de 1991-2020. O número também foi 0,12 °C acima do nível de 2023 (o ano mais quente registrado anteriormente), de acordo com dados do ERA5, que é a quinta geração da reanálise atmosférica do clima global do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), instituição de pesquisa independente apoiada por países da Europa.
Estamos ultrapassando o 1,5º C definido no acordo de Paris, e a média dos dois últimos anos já está acima desse nível, segundo o Instituto Copernicus.
2. Efeitos no Brasil e no Mundo
Podemos sentir isso no Brasil, com as inundações extremas que atingiram o ERS em 2023 e 2024 devastando grande parte do Estado. Agricultura, Cidades e a infraestrutura inclusive de logística e comunicações. Os dois data centers estaduais foram inundados causando dificuldades inclusive para a gestão da emergência. Os efeitos são sentidos até hoje e o RGS está em reconstrução.
Incêndios em todo o Brasil e no Estado de São Paulo colocando em perigo as cidades e causando uma situação de poluição do ar crítica para a cidade de São Paulo. A Amazonia brasileira sofreu a maior seca dos últimos anos.
Com muita frequência, as cidades e o campo apresentam qualidade do ar irrespirável, pela poluição urbana, incêndios florestais e eventos climáticos extremos, sendo os segmentos sociais vulneráveis os mais afetados.
SÃO PAULO
Nossa cidade São Paulo teve uma chuva de 125 mm em duas horas ontem 24/01/2025 véspera de aniversário da cidade que causou praticamente o colapso da infraestrutura rodoviária e inundações em vários bairros na véspera do aniversário da cidade.
Demonstrou que é urgente a prevenção e o preparo das cidades para enfrentar os impactos desses extremos climáticos.
Também se destaca o papel do gerenciamento das crises com o reforço ao sistema defesa civil, e do monitoramento e do planejamento do que fazer antes, durante e após os eventos. Planos de emergência, avisos etc.
Preparação dos cidadãos e dos profissionais com sua Capacitação – Capacitação na BAT com a CETESB e a PPA. Capacitações em Adaptação Climática e atualização dos profissionais para os riscos e impactos climáticos, e criar medidas de Adaptação
O que fazer e como a Engenharia pode contribuir ante esse estado de emergência climática? Como enfrentar os impactos dos riscos climáticos?
3. Adaptação às Mudanças climáticas e aumentar a resiliência das cidades são um novo desafio.
No plano legal temos a Lei nº 14.904, de 27 de junho de 2024, que estabelece as diretrizes para a elaboração de Planos de Adaptação à mudança do clima, com o objetivo de implementar medidas para reduzir a vulnerabilidade e a exposição a riscos dos sistemas ambiental, social, econômico e de infraestrutura diante dos efeitos adversos atuais e esperados.
Várias cidades já estão fazendo seus planos. Planos de Adaptação Climática em Santos, São Paulo, Recife, Rio de Janeiro.
Um aspecto central dos efeitos é a vulnerabilidade da infraestrutura urbana e da logística das cidades.
Por exemplo. Até o Metrô não resistiu tendo inundadas algumas estações. Colapso das estruturas de drenagem mal projetadas. Por exemplo os piscinões são projetados para enfrentar 85mm de chuva em 2 horas. Subdimensionamento das canalizações.
Outro aspecto é que ampliar a resiliência das cidades para enfrentar esses desafios e minimizar os impactos é fundamental.
Parques, áreas verdes, áreas permeáveis e toda uma gama de soluções baseadas na natureza: Para enfrentar a vulnerabilidade das cidades aos riscos decorrentes das mudanças climáticas, estratégias de adaptação climática estão sendo colocadas em prática e, nesse contexto, temos como uma grande temática de abordagem as Soluções baseadas na Natureza (SbN).
4. O papel da Engenharia
A engenharia contribuiu e tem potencial para fazer muito mais para a superação desse quadro socioambiental crítico, por meio da inovação tecnológica, aliada à ciência, mas sobretudo com o engajamento nos esforços à adequação das políticas públicas e legítima transformação do atual modelo socioeconômico, rumo a um modelo inclusivo, justo e sustentável.
Soluções de mitigação e adaptação criadas pela Engenharia e novas tecnologia que já são usuais e podem ser aplicadas de forma generalizada em políticas públicas inclusivas, porém, dependem da tomada de decisões políticas, empresariais e da própria evolução da engenharia:
1. A mudança tecnológica da atual matriz energética com a adoção de fontes de energia fotovoltaicas.
2. Eletrificação e substituição de combustíveis fósseis. A troca da frota de veículos movidos por combustíveis fósseis por veículos elétricos.
3. A coleta e tratamento de resíduos sólidos de forma seletiva, com tratamento exclusivo em aterros sanitários e coleta dos gases emitidos.
4. A adesão à agricultura orgânica, pelo seu baixo impacto ambiental e econômico, que produz alimentos saudáveis, além de ser mais inclusiva.
5. A Engenharia Florestal desempenha um papel vital pela complexidade do manejo florestal, especialmente no enfrentamento aos deslizamentos e incêndios florestais devastadores.
6. É fundamental a conectividade entre engenharia, ciência, pesquisa e inovação.
5. Mudança do Sistema Econômico
O atual sistema socioeconômico é insustentável em todas as suas dimensões; a adaptação ao novo normal climático só será viável com a total mudança desse modelo, em que todas as dimensões do desenvolvimento tenham como base valores essenciais como a democracia, a inclusão social, a conservação dos ecossistemas e o enfrentamento e adaptação às graves consequências do aquecimento climático.
Em outras palavras, ampliar a sustentabilidade e a resiliência urbana, com a definição de medidas de recuperação dos serviços ecossistêmicos nas cidades em Planos Diretores e na Política Urbana e Ambiental Municipal.
Assim, as ações, estratégias e planos de adaptação e de ampliação da resiliência devem ser definidos conjuntamente, para a redução do risco climático e para a sustentabilidade das cidades, criando uma base para orientar a recuperação ambiental das cidades com aplicação de SbN e em especial de AbE.
A Conferência Nacional do Meio Ambiente é um momento importante para a orientação dessas estratégias e propostas para a Adaptação, Mitigação, Gestão de Riscos, transformação Ecológica.
Eixo 1 ‐ Mitigação ‐ Redução da emissão de gases de efeito estufa
Eixo 2 ‐ Adaptação e preparação para desastres ‐ Prevenção de riscos e redução de perdas e danos;
Eixo 3 ‐ Justiça Climática ‐ Superação das desigualdades;
Eixo 4 ‐ Transformação Ecológica ‐ Descarbonização da economia com maior inclusão social;
Eixo 5 ‐ Governança e Educação Ambiental ‐ Participação e controle social.
*Ivan Carlos Maglio – Engenheiro Civil, Doutor em Saúde Ambiental, Pós Doutorado pelo IEA USP e Pesquisador do Lab Verde da FAU- USP
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