Por Amaury Monteiro Junior*
O Brasil passou por um período muito difícil em que a Soberania Nacional, a Democracia, a Ciência e a Tecnologia, no período compreendido entre os anos 2014 a 2022, foram agredidos diuturnamente com o objetivo de aprofundar um modelo de país fornecedor de matérias-primas e de fortalecimento de uma pequena classe de rentistas tendo como subproduto um enorme contingente de esfomeados, desempregados e miseráveis espalhados pelo Brasil todo.
A Engenharia, que para efeito de simplificação de texto engloba a configuração de nosso Conselho (engenharia, agronomia e geociências), foi atingida em sua estrutura vertebral com o movimento deliberado e planejado com o objetivo de quebrar nossas empresas de Engenharia, de reduzir investimentos e, em consequência, gerar uma quantidade enorme de Engenheiros, Agrônomos, Geólogos desempregados, sem perspectivas de exercerem suas profissões e condições básicas para sustentarem suas famílias, jogando-os na marginalidade, no subemprego e transformando-os em profissionais de Uber, se tanto...
A democracia nesse período foi colocada à prova todos os dias, direitos foram abolidos e jogados na lata do lixo, desrespeitos aos direitos humanos foram naturalizados, desrespeitos às mulheres, aos índios, aos negros se tornaram corriqueiros em nome da defesa do “homem de bem”, “da Família”, de “Deus”, da “Pátria”, que se tornaram figuras de retórica para defender a criação de um Estado fascista, entreguista, preocupado com a defesa de interesses inconfessáveis que passavam pela alienação do nosso patrimônio, da Soberania Nacional, da Democracia para atender a interesses de grandes multinacionais que se arvoraram a “donas do mundo” da Ciência, da Tecnologia, da Mídia, das Comunicações, dos investimentos, da infraestrutura e dos nossos recursos naturais. Ao povo brasileiro ficou reservado o papel de mão de obra barata, esfomeada e miserável! Inclusive os com formação acadêmica “privilegiada”! Foram anos muito difíceis e sem perspectivas de futuro para essa nação.
Dentro desse contexto e de uma pandemia que ceifou mais de 700 mil vidas de brasileiros, vítimas do negacionismo do governo à época, grupos de brasileiros se propuseram a reagir. Assim o fizeram os advogados, os médicos, os Engenheiros e dentro desse contexto surgiu o movimento Engenharia pela Democracia.
Na pandemia perdemos o nosso maior expoente e idealizador, que hoje nomeia o Conselho Deliberativo da Entidade, do qual tenho a honra de ser o seu primeiro presidente, o companheiro Sérgio Storch.
Nesse momento em que homenageamos os 3 anos da Engenharia pela Democracia (EngD), não podemos deixar de homenagear o Sérgio Storch, vítima da Covid, mas que deixou raízes e exemplos de sua luta, capacidade de organização e visão de futuro que são exemplos com que me deparo dia a dia, pelo Brasil afora. Por conta dessa imagem forte do Sérgio, começaram os primeiros passos da EngD, em conjunto com outras entidades na construção de importantes focos de debate e resistência em defesa da Democracia, da CT&I e da Soberania Nacional. Exemplos não faltam e ficarão inscritos para sempre nos anais da EngD.
A EngD iniciou-se como movimento organizado em outubro de 2021, após processo de organização, arregimentação de importantes lideranças, participação ativa em movimentos “Fora Bolsonaro” nas ruas de São Paulo e outros. Nasceu na luta e no compromisso com a democracia, e contra o neoliberalismo firmados em sua Carta de Princípios, com bandeiras em pé, faixas nas ruas e militantes comprometidos em construí-la e fortalecê-la. Outubro de 2021 foi uma data histórica que deu a forma definitiva que o movimento ganharia em março de 2022, com a aprovação de seu estatuto, e as eleições de sua Diretoria, Conselho Fiscal e seu Conselho Deliberativo.
Mas a EngD não parou por aí. Foi mais fundo, desenvolveu seu Plano Estratégico e seu Plano Estratégico Eleições. De posse desses instrumentos participou ativamente das lutas pela Democracia nesse país, engajou-se na campanha para eleger Lula presidente, com aval de Assembleia Geral, engajou-se na luta para eleger uma bancada de deputados progressistas e que concordavam com nosso Plano Estratégico Eleições, participou de debates e nunca deixou de defender as bandeiras caras ao fortalecimento da Democracia nesse país e em defesa da Engenharia Nacional.
Ainda no ano 2022, devo destacar a comemoração do dia Internacional da Mulher e do dia Internacional da Mulher Engenheira, as palestras das semanas de debates na EngD onde debatemos a defesa da CT&I, Saneamento Básico, Transportes, Meio Ambiente. Não foi pouco, nossas relações com outras entidades se aprofundaram na criação do Fórum dos Intelectuais Orgânicos Progressistas, na aliança e realização de eventos com os Economistas pela Democracia contra a Barbárie e tantos outros...
Com a experiência adquirida em 2022 e já com alguma projeção junto às entidades progressistas, iniciamos 2023 com o entendimento de que era importante participar da disputa das eleições no Crea-SP e saímos à luta; participamos da construção da Rede Democracia e Direitos Humanos, e de movimentos em defesa do novo governo progressista que tomava posse.
Uma característica que sempre nos marcou foi a ousadia e o compromisso com a luta pela Soberania Nacional e o fortalecimento da Engenharia Nacional. Sendo assim, diante do quadro que se apresentava nas eleições para a presidência do Confea, e da importância que essas eleições representavam para o quadro de fortalecimento da Democracia nesse país e para tirar a Engenharia do processo de letargia neoliberal a que estava submetida dentro de nosso próprio Conselho, resolvemos em conjunto com forças progressistas que atuam no nosso meio participar do processo eleitoral e lá deixamos uma marca forte que, apesar das limitações, provocou o debate e a união das entidades de engenharia progressistas em torno de bandeiras importantes para a Engenharia rumo a um conselho forte, que trouxesse protagonismo à engenharia, que defendesse as nossas estatais estratégicas, que debatesse a formação universitária de nossas profissões, que defendesse a participação das Engenheiras, que fortalecesse as nossas entidades representativas, que defendesse os nossos profissionais .... Desse processo nasceu a ampliação dos horizontes da EngD, que se colocou no rol das entidades da Engenharia, da Agronomia e das Geociências como um parceiro importante e prioritário.
Como reflexo dessa movimentação surgiu também a ampliação da ideia de Fórum da EngD para Fórum da Engenharia Nacional, que marcará um novo salto na construção de um movimento unitário e forte na defesa da Engenharia Nacional. O Fórum da Engenharia Nacional está em construção nesse momento com a participação de muitas entidades de engenharia que se empenharam na disputa para Mudar, Inovar e Reconstruir o Confea em 2023.
O ano 2023 também foi um ano triste para todos nós, perdemos um grande companheiro, o José Luiz de Cerqueira Cezar, coordenador e fundador dessa EngD, a quem fiz a seguinte descrição em reunião homenagem realizada em 14/06/2023 no Conselho deliberativo: “Engenheiro, pensador, ativista progressista, visionário, inteligência rara, humano, sensível, amigo, formulador de teorias econômicas e políticas, militante, sempre a frente de seu tempo – enfim, um daqueles companheiros que podemos rotular como INDISPENSÁVEIS e que serão sempre lembrados por sua obra e luta.”. O Cerqueira deu uma grande contribuição à fundação e construção dessa EngD e por isso deve ser lembrado e reverenciado nesse momento de reflexão e avaliação da EngD em seus 3 anos de vida.
O ano 2024 nasceu forte na EngD, com a chegada de novos companheiros com grande história de luta pela Engenharia e a realização de eventos e parcerias que marcaram, como a Conferencia Livre da Ciência e Tecnologia em parceria com a SBPC e o Memorial da América latina, a participação na Conferência Nacional da Ciência e Tecnologia e o início da preparação e construção do Fórum da Engenharia Nacional, que será tão mais importante quanto conseguir ampliar a participação de Engenheiros, Agrônomos e Geocientistas de todas as regiões do país. Esse será um evento que pode vir a marcar um ponto de virada importante para o movimento da Engenharia nesse país, através do envolvimento de importantes entidades, lideranças e representantes da Engenharia desse país. Até por isso, não pode e não deve ser um evento da Vanguarda do movimento da Engenharia, já que representará a abertura de importantes canais com governo, entidades, lideranças, profissionais rumo à reconstrução desse país e da criação de um sólido plano de desenvolvimento nacional com a participação da Engenharia.
3 anos se foram, pela avaliação que concluo agora foram produtivos, mas não devemos nos levar pelo otimismo da análise dos avanços conquistados, já que o avanço se torna mais difícil a cada progresso consolidado. O grande desafio, ainda não enfrentado é integrar nessa luta os jovens e os não tão jovens e para isso uma preocupação constante deve ser o de ampliar de forma sólida e coerente esse movimento.
Em frente companheiros, vamos à luta! Temos um país mais igualitário, justo e de bem-estar social a construir e a Engenharia não pode estar ausente.
* Amaury Monteiro Junior é Presidente do Conselho Deliberativo da EngD
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