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José Manoel Gonçalves

José Manoel | Guarujá: evitando a tragédia anunciada – um plano urgente de ação diante da ameaça das chuvas extremas


O Eco das Chuvas Extremas Repercute em Guarujá

 

As cenas de devastação provocadas pelas chuvas extremas no Rio Grande do Sul, em abril e maio de 2024, ecoam como um alerta inadiável para Guarujá. A catástrofe gaúcha, impulsionada por um volume de chuvas sem precedentes, expõe a fragilidade das cidades frente aos desafios climáticos e a necessidade premente de ações preventivas. Em Guarujá, a confluência de fatores como alta densidade demográfica, ocupação de áreas de risco, infraestrutura de drenagem deficitária e a intensificação das chuvas devido às mudanças climáticas, configura um cenário de vulnerabilidade que exige atenção imediata e medidas concretas já.

 

As Lições do Rio Grande do Sul: Decifrando as Causas da Tragédia em Números

 

A análise das causas das enchentes no Rio Grande do Sul revela um conjunto de fatores interligados que amplificaram o impacto das chuvas extremas:


  • Chuvas Extremas: O volume de chuvas em Porto Alegre, que atingiu 551 mm em apenas um mês, superando em 496% a média histórica, demonstra a força da natureza e a necessidade de preparar a cidade para eventos climáticos cada vez mais intensos. Em Guarujá, a média histórica de chuvas para maio é de 140 mm. Um evento similar ao do Rio Grande do Sul representaria um aumento de 393%, totalizando 690 mm de chuva em um único mês.

  • Compactação do Solo: A compactação do solo, presente em 40% das áreas agrícolas do Rio Grande do Sul, intensificou o escoamento superficial da água, sobrecarregando os sistemas de drenagem. Em Guarujá, a ocupação desordenada do solo, com grande quantidade de áreas impermeabilizadas, agrava esse problema. Estima-se que cerca de 30% da área urbana de Guarujá seja impermeabilizada, o que significa que a água da chuva tem dificuldade de penetrar no solo, aumentando o risco de enchentes.

  • Desmatamento: A perda de 70% da cobertura florestal original no Rio Grande do Sul, especialmente das matas ciliares, comprometeu a capacidade de absorção da água da chuva, intensificando as enchentes. Em Guarujá, a Mata Atlântica, já fragmentada, necessita de proteção e recuperação para garantir sua função de proteção contra desastres naturais. Dados da SOS Mata Atlântica indicam que restam apenas 17% da cobertura original da Mata Atlântica em Guarujá, o que aumenta a vulnerabilidade da cidade a eventos climáticos extremos.

  • Infraestrutura: A deficiência na infraestrutura de drenagem, com apenas 30% da área de Porto Alegre com sistema adequado, contribuiu para a gravidade das enchentes. Em Guarujá, a necessidade de investimentos em infraestrutura de drenagem é crucial para evitar tragédias. Um estudo da Universidade Católica de Santos (UniSantos) apontou que apenas 40% da área urbana de Guarujá possui sistema de drenagem pluvial adequado, o que coloca a cidade em situação de risco.

  • Mudanças Climáticas: As mudanças climáticas intensificam a frequência e a intensidade das chuvas extremas, tornando as cidades mais vulneráveis a enchentes. Guarujá, como cidade costeira, também está sujeita à elevação do nível do mar, o que agrava os riscos de inundações. Projeções do IPCC indicam que o nível do mar pode subir até 1 metro até o final do século, o que colocaria em risco áreas costeiras de Guarujá, incluindo a região da Enseada e da Praia da Pitangueiras.

 

Guarujá em Números: Projetando um Cenário de Risco Detalhado

Utilizando os dados do Rio Grande do Sul como referência e considerando as características específicas de Guarujá, podemos projetar um cenário hipotético de risco em caso de chuvas extremas:


  • População em risco: Guarujá possui uma população de aproximadamente 137 mil habitantes, segundo o IBGE (2020). Considerando que 20% da área de Porto Alegre foi afetada pelas enchentes, podemos estimar que, em um cenário similar, cerca de 27.400 pessoas estariam em risco em Guarujá, principalmente nas regiões mais baixas e próximas a rios e canais, como a Vila Alice, a Vila Áurea, o Morrinhos e o centro da cidade.

  • Áreas afetadas: A área urbana de Guarujá é de aproximadamente 142 km². Se 20% dessa área fosse afetada por enchentes, como em Porto Alegre, teríamos cerca de 28,4 km² da cidade inundados, o que incluiria áreas residenciais, comerciais e de serviços, com grande impacto na economia local.

  • Impacto econômico: As enchentes no Rio Grande do Sul causaram prejuízos estimados em bilhões de reais. Em Guarujá, um evento similar poderia impactar significativamente a economia local, especialmente o turismo, que representa cerca de 60% do PIB da cidade. A interrupção das atividades turísticas, os danos à infraestrutura hoteleira e a queda no número de visitantes poderiam gerar perdas milionárias para a economia da cidade.

 

Plano de Ação para Guarujá: Medidas Preventivas pa-ra Evitar a Tragédia Anunciada


Para evitar que Guarujá seja palco de uma tragédia similar à do Rio Grande do Sul, é crucial implementar um plano de ação robusto, com medidas preventivas eficazes:

Fortalecimento da Infraestrutura de Drenagem: É fundamental investir na ampliação e modernização da rede de drenagem pluvial da cidade, com a construção de novas galerias, reservatórios de retenção de água e sistemas de bombeamento eficientes. A utilização de soluções inovadoras, como pavimentos permeáveis e jardins de chuva, também deve ser considerada. A meta é ampliar a cobertura da rede de drenagem para 80% da área urbana da cidade em um prazo de 10 anos, com investimentos anuais de R$ 50 milhões.


  • Recuperação e Preservação da Mata Atlântica: A proteção e recuperação da Mata Atlântica, especialmente nas áreas de mananciais e encostas, é crucial para aumentar a capacidade de absorção da água da chuva e reduzir o risco de deslizamentos. A criação de novas áreas verdes, como parques e jardins, também contribui para a permeabilidade do solo. A meta é recuperar 10% da cobertura original da Mata Atlântica em Guarujá em um prazo de 20 anos, com investimentos anuais de R$ 10 milhões em projetos de reflorestamento e educação ambiental.

  • Planejamento Urbano Sustentável: É fundamental rever o plano diretor da cidade, com a delimitação de áreas de risco e a proibição de novas construções em áreas vulneráveis a enchentes e deslizamentos. A promoção de práticas de desenvolvimento urbano sustentável, como a verticalização em áreas adequadas e a criação de áreas verdes, é essencial para reduzir os riscos. A meta é reduzir em 50% o número de moradias em áreas de risco em um prazo de 15 anos, com investimentos em programas de habitação social e urbanização de favelas.

  • Sistema de Alerta e Monitoramento: A implementação de um sistema de alerta e monitoramento de chuvas e riscos de enchentes, com comunicação eficiente à população, é crucial para garantir a segurança dos cidadãos. A utilização de tecnologias como sensores, drones e inteligência artificial pode otimizar o sistema de alerta. A meta é implantar um sistema de alerta precoce de chuvas extremas em um prazo de 5 anos, com investimentos de R$ 5 milhões em tecnologia e treinamento de pessoal.

  • Educação Ambiental e Conscientização: A promoção de campanhas de educação ambiental e conscientização da população sobre os riscos de enchentes e a importância da preservação ambiental é fundamental para garantir a participação da comunidade nas ações preventivas. A meta é realizar anualmente campanhas de educação ambiental em escolas, comunidades e empresas, com investimentos de R$ 1 milhão por ano.

 

A Urgência de Agir para Evitar a Tragédia Anunciada

As chuvas extremas no Rio Grande do Sul servem como um alerta para Guarujá. A cidade precisa agir agora para fortalecer sua resiliência e evitar que uma tragédia similar aconteça. A implementação de um plano de ação robusto, com medidas preventivas eficazes e investimentos adequados, é crucial para garantir a segurança e o bem-estar da população. A hora de agir é agora, antes que seja tarde demais. A prevenção é o melhor antídoto contra a força da natureza.

Nada disso é muito fácil, mas também nada tem de impossível. É preciso em primeiro lugar vontade política para destinar os recursos e fazer as companhas necessárias de conscientização, para que cada cidadão faça o que puder e, acima de tudo, dê seu apoio às medidas inadiáveis.

 

* José Manoel Ferreira Gonçalves, jornalista, engenheiro e escritor, é membro do Conselho Deliberativo da EngD. Preside a Associação Guarujá Viva (Aguaviva) e a Frente Nacional pela Volta das Ferrovias (Ferrofrente)

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