A Ilusão de Escolha no Capitalismo Digital
Frequentemente somos levados a crer que, no mundo moderno, a vastidão de escolhas à nossa disposição é sinal inequívoco de nossa liberdade. A partir das reflexões a este respeito de Slavoj Žižek, entretanto, somos desafiados a perceber como tais escolhas podem, muitas vezes, tão-somente mascarar a profunda falta de alternativas que há, pelo menos no que é mais fundamental. No contexto de um capitalismo digital avançado, a narrativa prevalecente sugere que ainda poderemos ser arquitetos do nosso próprio destino, navegando por um mar de possibilidades tecnológicas e econômicas. No entanto, ante uma análise minimamente acurada, essa percepção de autonomia que sentimos se revela nada mais que uma fantasia bem-orquestrada, feita para nos maniatar.
A Disjunção das Pílulas Vermelha e Azul
A metáfora das pílulas de “Matrix” – uma azul e uma vermelha – simboliza a escolha entre a ignorância confortável e a verdade dolorosa. No entanto, a aplicação dessa metáfora ao nosso contexto atual revela uma terceira realidade, na qual a própria dicotomia proposta é, em si, uma ilusão. Não somos apenas espectadores passivos, à mercê de uma máquina impessoal, mas sim participantes em um sistema dominado por decisões humanas, no qual os poderosos perpetuam a nossa ilusão de escolha para manter o status quo deles.
Desconstruindo o Mundo de Falsas Escolhas
Para mudarmos este estado de coisas, o desafio que enfrentamos é imenso. Desmontar um sistema profundamente arraigado em nossa sociedade e em nossas próprias psiques não é tarefa trivial. Exige de todos nós uma reavaliação radical de nossos valores, nossas prioridades e, crucialmente, das estruturas de poder que moldam nosso mundo. E este processo de desconstrução não está limitado à esfera econômica; é uma transformação cultural e filosófica necessária para revelar e desmantelar os mecanismos de controle que obstruem o verdadeiro progresso humano.
“Matar” Deus e os Ídolos do Capitalismo
A provocação de “matar” Deus não representa uma insurreição contra a religião, eu mesmo sou católico, mas sim contra qualquer forma de autoridade absoluta que pretenda ditar as regras do jogo sem espaço para questionamentos. No capitalismo moderno, essas divindades assumem a forma de instituições financeiras e conglomerados corporativos, cujo poder aparentemente inquestionável molda nossas vidas de maneira profunda e ardilosa. A libertação dessa influência requer mais do que simples desobediência; exige uma ressignificação profunda de nossos sistemas de crenças e valores.
Confrontando o Sistema Financeiro Digital
Nossa submissão aos sistemas financeiros digitais é dada como certa, mas é preciso que seja contestada. Não é suficiente apenas reconhecer nossa condição de “objetos de consumo”; devemos tomar medidas ativas para reverter essa dinâmica. Isto não significa abdicar da tecnologia ou do progresso, antes o contrário, mas sim reorientá-los para servir aos reais interesses humanos, em vez de perpetuar o controle sobre eles e a desigualdade entre todos. O gesto simbólico de “puxar o fio da tomada” nos lembra que o poder para mudar o curso das coisas ainda reside, em última análise, em nossas mãos.
Pela Construção de Alternativas Reais
O caminho à frente demanda mais do que reconhecimento das falhas do nosso sistema; exige a criação ativa de alternativas viáveis. Proponho uma reimaginação radical da organização social e econômica, onde a colaboração, a sustentabilidade e a equidade sejam os pilares. Não se trata de um retorno nostálgico ao passado, mas uma busca corajosa por um futuro em que a tecnologia e o progresso sejam verdadeiramente sustentáveis e democratizados, a serviço de todos, e não apenas de uma elite privilegiada.
* José Manoel Ferreira Gonçalves, jornalista, cientista político, engenheiro, escritor e advogado. Pré-candidato a Prefeito do Guarujá pelo PSOL. É presidente da Associação Guarujá Viva, Aguaviva, e da Frente Nacional pela Volta das Ferrovias, Ferrofrente. Idealizador do Portal SOS Planeta.
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