A EngD (Engenharia pela Democracia) lamenta profundamente a morte de Artur Araujo. Militante das causas da Engenharia e da Democracia, Arthur fez parte do grupo de Politécnicos que precedeu a EngD, tendo sido um de seus precursores. Ele faleceu na segunda-feira (12).
O jornalista Gilberto Maringoni, amigo e companheiro de lutas de Artur, prestou-lhe a homenagem que a EngD reproduz abaixo. Artur Araujo, você está presente!
PERDEMOS O GRANDE ARTUR ARAUJO (1958-2023)
Por Gilberto Maringoni
Esta foto sintetiza muito da inteligência e do humor implacável de meu amigo Artur, que se foi nesta madrugada. Como muitos de nossa geração que se mantiveram nas fileiras da esquerda, ele se considerava - positivamente! - um dinossauro. A imagem abaixo foi fixada na frente da biblioteca Municipal Mario de Andrade, em São Paulo, e o cartaz ao fundo é quase uma legenda..
Artur foi uma das pessoas mais cultas e perspicazes que conheci. Companheiro de movimento estudantil no final dos anos 1970, passou pela Ação Popular (APML) e pelo PCB, antes de se filiar ao PT. Suas análises de conjuntura tinham a precisão de quem sabia combinar vivência política - foi assessor de David Capistrano Filho (1948-2000) na prefeitura de Santos - e profundo conhecimento de Economia e História.
Mas suas área de interesse não ficavam por aí. A cultura literária era admirável, vindas de meticulosas leituras dos grandes escritores estadunidenses que saíram do jornalismo no século XX, como Hemingway, Fitzgerald, John dos Passos, John Fante e Steinbeck, sem esquecer os que saltaram das pulp magazines para o panteão da novela policial, como Hammet, Chandler e Spillane. Dos tempos em que era executivo de grandes redes hoteleiras, quando viajava contantemente aos Estados Unidos, desenvolveu meticuloso conhecimento da trajetória dos músicos e compositores do blues, do folk e do jazz. Não bastasse, era cozinheiro mais do que exemplar.
Artur foi um intelectual sem obra escrita ou vida acadêmica. Era um cultor da conversa e da polêmica, com percepções e sacadas sempre inusitadas e dono de irritante realismo. Chamava atenção sempre para aspectos concretos e quase comezinhos da vida política. "Sei, Lula viajou, falou e brilhou no exterior. Mas se as pessoas não tiverem emprego, salário e comida no prato, o governo fracassa", repetia sempre, com uma voz cristalina, quase de barítono. Eu lhe dizia que se não desse para nada na vida, poderia ser locutor de sucesso. "Nada, sou um dinossauro", cortava na lata.
Foi-se meu amigo Artur. Que merda, que merda...
Comments