Confúcio disse, uma das principais tarefas de um bom governante é melhorar a qualidade do seu povo. Um amigo me disse que leu esta frase num livro e tenho a impressão que os nossos políticos nunca a ouviram e, se a ouviram, nunca a levaram a sério. Não quero fazer a crítica fácil e procurar culpados, porém, nos últimos 500 anos da nossa história não vemos esforços acentuados da classe política para oferecer escolas de boa qualidade para as crianças, o que contribui para manter o povo na ignorância e afastado da possibilidade de evolução sob os diversos pontos de vista de interesse.
Tendo em vista que os políticos não têm mostrado interesse em propiciar a evolução do povo, talvez ainda nem tenham percebido esta necessidade imperativa ou, possivelmente, fazem tudo ao seu alcance para manter o povo na sua situação desfavorável, acredito que possamos pensar em tomar a iniciativa para invertermos o jogo. Nós, o povo, podemos tomar iniciativas para melhorar o nível dos políticos. Temos que contar com os professores, com as escolas, com os estudantes, com O POVO para exigir que os políticos passem por EXAMES NACIONAIS DE QUALIFICAÇÃO. Por exemplo, para qualquer cargo eletivo federal, estadual ou municipal, proponho exigirmos que os candidatos tenham pelo menos um diploma de nível superior, um tempo mínimo de experiência profissional em alguma atividade lícita e passem por um EXAME NACIONAL DE QUALIFICAÇÃO. Oportunamente, poderemos discutir o programa a ser abordado nos exames e demais condições. Afinal, qualquer cidadão que abra um pequeno negócio, um botequim por exemplo, ao contratar um funcionário, o bom senso recomenda que deva ser exigida uma qualificação e experiência mínimas, não é? Políticos que se metam a administrar nossas vidas e a legislar sobre os mais variados temas, nossos funcionários, não deveriam ter uma formação, experiência e um conhecimento mínimos devidamente aferidos em EXAMES NACIONAIS DE QUALIFICAÇÃO? Por que não? Afinal, ninguém é obrigado a ser político, a se candidatar aos cargos eletivos e, por outro lado, do ponto de vista do interesse do povo, considero fundamental que sejam estabelecidos requisitos mínimos para a ocupação dos diversos cargos públicos. Além do mais, exigindo-se que os políticos obtenham diplomas e qualificação, quem sabe esta seja uma forma eficaz de chamar-lhes a atenção da importância de termos bons professores e boas escolas para toda a população, afinal, eles mesmos terão que ter um desempenho compatível que lhes permita obter a qualificação exigida. Aproveito este ponto para destacar um artigo que estou publicando no mesmo local e data intitulado “Professor, uma profissão amaldiçoada”.
De qualquer forma, num mundo com os níveis de complexidade com os quais os legisladores e governantes devem lidar, certamente, eles devem estar adequadamente preparados para, pelo menos, ler e entender textos sobre as diversas questões que têm que propor e decidir. Pergunto ao leitor eleitor, você se acha adequadamente representado? Você acha que os políticos eleitos com o seu voto estão adequadamente preparados para lidar com as complexidades do mundo atual? Você acha que o político para quem deu seu voto é capaz de ler e entender adequadamente os mais diversos tipos de textos que irão acabar se transformando em leis que todos devem obedecer? Você acha que o político a quem você deu seu voto é capaz de expressar adequadamente, por escrito ou oralmente, as suas ideias e proposições e transformá-las nas leis que todos devem obedecer? E se você estivesse no lugar do político que você escolheu, você seria capaz de ter um desempenho minimamente adequado? E quanto ao futuro?
Consultando o portal do Senado, verifica-se que há 17 senadores que não têm um diploma de curso superior (mais de 20 % do total), há casos de senadores com apenas o Ensino Fundamental (um deles incompleto) e que abordam os temas mais complexos da organização do nosso país. Não consultei o portal da Câmara dos Deputados, deixo para o leitor mais entusiasmado e com tempo para isso. Há, por exemplo, casos de senadores com Ensino Médio ou com Ensino Fundamental e que participam (podem participar como qualquer outro senador com diploma universitário) de bancas examinadoras de candidatos a Juízes do STF, de candidatos à PGR, de candidatos a cargos de Diretores do Banco Central, etc. Esquisito e contraditório, não parece? Não seria pertinente, por exemplo, que estas bancas examinadoras fossem formadas pelos mais diversos profissionais das respectivas áreas?
O comportamento e o palavreado de certos políticos e funcionários de alto escalão nos diversos setores públicos brasileiros sugerem corroborar a ideia de que não tiveram boas escolas, não tiveram uma boa educação, ou ainda, foram péssimos alunos, daqueles que existem aos montes nos fundões e que perturbam e inviabilizam os processos educacionais nas salas de aula do Brasil. Tendo em vista que este texto objetiva tentar contribuir com o diagnóstico e com a busca de soluções para os mais diversos aspectos da nossa vida em sociedade, seria interessante que as instituições de pesquisa das áreas afins fizessem estudos para determinar os perfis típicos dos nossos políticos que ocupam cargos eletivos e que as informações sejam amplamente divulgadas para a sociedade. Para cada um, determinem que escolas frequentou? Qual foi o desempenho que o caracterizou durante o seu período escolar, se teve, quanto tempo e em qual área se formou? Foi um bom aluno que respeitava adequadamente os seus professores? Como eram as suas relações com seus colegas? Afinal, acho que é imperativo verificar se os políticos têm as devidas qualificações para promover alterações significativas e tomar decisões sobre os mais diversos aspectos da nossa vida em sociedade, por exemplo reformando a Constituição com extrema facilidade, desconsiderando totalmente os processos históricos que resultaram na sua elaboração e promulgação.
Há pessoas que dizem que o povo não sabe votar. No entanto, temos um processo eleitoral em andamento e observamos que, em muitos municípios, o eleitor deve escolher entre o candidato ruim, o pior, o péssimo ou o horroroso. Enfim, retomando a ideia dos processos de qualificação dos políticos, quem sabe, se forem instituídos requisitos mínimos a serem atendidos, se forem requeridos diplomas de cursos superiores, comprovação de experiência profissional e a aprovação em EXAMES NACIONAIS DE QUALIFICAÇÃO, possamos imaginar que um dia teremos eleições nas quais O POVO poderá escolher entre o bom, o melhor, o ótimo ou o maravilhoso, logicamente, inclui também a maravilhosa.
Para ilustrar um pouco melhor a importância de uma qualificação adequada, bem como o atendimento aos requisitos de formação superior e experiência profissional, podemos recorrer a alguns dados numéricos. Consultando o portal da “Auditoria cidadã da dívida” constam as seguintes informações relacionadas ao orçamento federal do ano de 2023:
- Orçamento federal previsto – R$ 5,031 trilhões;
- Juros e amortização da dívida – R$ 2,559 trilhões, 50,87%;
- Educação – R$ 0,1303 trilhão, 2,59 %;
- Saúde – R$ 0,1318 trilhão, 2,62 %.
Então, leitor eleitor, observando estes dados numéricos parece que podemos inferir que há muitas coisas a serem minuciosamente analisadas para orientar decisões extremamente complexas que impactam a vida de todos, sem exceção. Arrecadar e destinar o uso de trilhões, bilhões ou até mesmo milhões, acredito que é necessário um mínimo de traquejo na arte da Aritmética, não é?
Enquanto não olharmos os nossos problemas de frente e exigirmos o atendimento a um conjunto mínimo de requisitos, continuaremos observando passivamente políticos despreparados desperdiçando os recursos públicos formados com o suor e o trabalho árduo de toda a população em manobras que visam unicamente a atender aos seus interesses eleitorais, mais nada. Assumo aqui a premissa que exigindo o atendimento a um conjunto mínimo de requisitos, a população tenderá a acreditar na possibilidade de sucesso e de melhoria das condições de vida e, quem sabe com isso, participará mais ativamente nos processos de tomadas de decisão e nas suas implementações. O povo tem que acreditar que é possível fazer o que é certo. Não podemos aceitar a ideia de que os espertalhões prevaleçam acima de tudo e acima de todos.
São Paulo, 7 de setembro de 2024.
Pedro Pereira de Paula
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