Por Miguel Manso
A engenharia brasileira já deu incontáveis provas de sua capacidade inventiva, inovadora, e tem sido decisiva para o desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e Inovação em todas as suas linhas. Presente em duas centenas de especializações, em praticamente todos os setores da economia, da produção, da agricultura à saúde, da educação às finanças, dos serviços à indústria. Praticamente nada é feito sem muita e competente engenharia do Brasil.
A grande transformação realizada pós eletrificação, com o alargamento dos processos industriais, a internet, os tele processos, a computação e automação digital, o trabalho em redes, plataformas, ensino a distância, processos diversos e ainda em curso, transformaram e impulsionaram todas as áreas do desenvolvimento social e humano, nem sempre acompanhadas das respectivas transformações nas relações sociais e infelizmente ainda não usufruído por todos.
Agora estamos diante de outro grande salto à frente nas forças produtivas com a introdução da inteligência artificial, da automação inteligente, dos objetos inteligentes, dos processos de predição, de gigantescos bancos de dados e compartilhamento de informações, de algoritmos de aprendizado profundo, treinados por milhões de usuários, programas e máquinas capazes de se auto programar, de comunicação oral com máquinas e processos, de comunicação neural com máquinas e processos, da rápida introdução da IA em todas as áreas do trabalho, da produção, do conhecimento e da pesquisa científica.
Enquanto as Nações, os Estados e as Cidades discutem e lançam programas de grande envergadura, com investimentos de dezenas e centenas de bilhões, e se esforçam para alcançar este novo patamar, mobilizando todos os recursos nacionais ou locais nesta direção, investindo muito para formar cientistas e novos talentos, formar engenheiros em profusão, como nunca visto antes, ainda temos no Brasil quem pense que basta fazer mais do mesmo.
Muitas foram, e ainda são, as dificuldades no caminho da Ciência, da Tecnologia e da Inovação, mas creio que não erro em apontar que a maior vítima deste processo de descrédito na capacidade nacional, de desmonte do que já havíamos alcançado, grifo aqui da minha parte - a maior vítima - foi a Engenharia Nacional.
Enquanto os países, que alcançam suas maiores taxas consecutivas de alto crescimento e desenvolvimento tecnológico, dobram a cada dez anos o número de engenheiros formados e a oferta de matrículas, de bolsas de mestrado, doutorado e pos doutorado, enquanto investem massivamente na requalificação de quem já está formado, no Brasil vimos acontecer o processo inverso. Perdemos, em dez anos, quase metade dos engenheiros que se formavam por ano. Perdemos os engenheiros já formados e com larga experiência para outros países, que além de dobrarem o seu plantel de novos formandos, recrutam inteligência na Engenharia do Brasil, aliás, muito valorizada no restante do mundo e abafada, invisível, quase anulada nos processos políticos e culturais do Brasil.
Às vezes, parece que ela nem existe. Como se fosse possível resolver problemas complexos para toda a sociedade, transformar descobertas científicas de laboratório, para usufruto de todos, sem Engenharia. Como se fosse possível haver instrumentos e o proprio laboratório de pesquisa sem engenharia, ou fazer novas tecnologias sem Engenharia, como se fosse possível fazer Inovação, Cidades, Indústrias, Agricultura, Logística, Energia, ou qualquer outra coisa sem muita e competente Engenharia.
Quem fazia ciência com pequenos microscópicos hoje precisa recorrer aos processos de aceleradores de luz, da magnífica e gigante obra da engenharia brasileira, o laboratório Sirius do CNPEM. Quem quiser observar o espaço, fazer ciência espacial, satélites e foguetes, precisa deixar a luneta de Galileu e recorrer a telescópios espaciais, parabólicas e computadores de alto rendimento, a Institutos de Pesquisa como o INPE, e a grandes supercomputadores com Inteligência Artificial, para corrigir imagens captadas por sofisticados sensores de radiofrequência, ondas e partículas geradas a bilhões de anos luz, passando por sofisticados filtros, capazes de separar íons ou fótons, de um lamaçal de ruído de fundo cósmico. Quem quiser um simples celular mais moderno ou fazer cirurgias complexas, ou exames de diagnóstico de imagens, precisa usar a internet, a inteligência artificial, a telemedicina, equipamentos médicos não invasivos, exames laboratoriais sofisticados em sua engenharia. Quem quiser alcançar maior produtividade na agricultura e manter-se vivo e competitivo terá que recorrer a drones com IA capazes de pulverizar e aplicar remédios a uma única planta no meio da plantação, antes que a doença se alastre, ou colher de forma seletiva os frutos maduros e deixar os verdes, para aumentar a rentabilidade, colheitadeiras movidas por GPS e IA, etc…
Nosso primeiro grande desafio nesta Conferência é ajudar a retirar da escuridão, da invisibilidade a Engenharia do Brasil e reverter as pressões que, ao abafar e desarticular a Engenharia, visam ciar obstáculos ao nosso desenvolvimento tecnológico, industrial e ao crescimento que o Brasil precisa buscar. É a isto que esta Conferência está chamada a debater.
O segundo grande desafio é dar a nossa contribuição para resgatar o protagonismo da Engenharia para a Nova Indústria do Brasil, integrar o debate sobre os caminhos e prioridades, a partir da experiência e da ótica de quem organiza processos de pesquisa e industriais, e de quem conhece por dentro como isto tudo funciona.
O Terceiro grande desafio e debater de que forma, com que prioridade e quais os caminhos para fortalecer todo o ECOSSISTEMA de ciência, pesquisa, tecnologia, os ICTs e Fundações, os Parques Tecnológicos temáticos, para focar nas prioridades do desenvolvimento nacional, no fortalecimento e equacionamento dos cursos de Engenharia e Pós Graduação, de qualidade e de excelência. Debater caminhos para reverter a evasão nos cursos técnicos e de engenharia, e os meios para estimular a juventude a encarar este grande desafio das Engenharias. Reforçar e garantir as políticas públicas para sua formação até o Pós Doc. Viabilizar que, quando formados, sejam absorvidos pelo ECOSSISTEMA nacional de pesquisa e produção, bem remunerados e valorizados, para que não aconteça como no futebol, em que também somos geradores de grandes talentos, mas que saem do país e que retornam apenas na sua aposentadoria. A diferença, neste caso da engenharia, é que com eles vão invenções, descobertas, inovações que geram novos produtos e processos, suas patentes, novas industriais, e com eles a riqueza que vai para outros povos e países.
O quarto desafio, não quer dizer necessariamente nesta ordem, ao contrário, é parte indispensável de todas os demais desafios, é realizar todo este resgate e reversão do curso atual de desmobilização e perda de talentos, de valorização e protagonismo da Engenharia com muita inclusão social, em especial da jovens mulheres engenheiras, das mulheres que querem ser engenheiras ou conseguiram se formar, para que sejam muito bem capacitadas, valorizadas e respeitadas, com salários iguais aos dos homens engenheiros, mas com mais vantagens e proteção social, porque lhes foi negado, por séculos, o direito ao estudo, a pesquisa, ao trabalho qualificado, sem que tenham sofrido com a permanente e real ameaça de perder o direito à maternidade, ao casamento por amor e ao sustento da família e filhos, com ou sem parceiro ou parceira, sem ter que abrir mão da sua condição de mulher, mãe ou esposa, ou de seguir como preferirem, sem a ameaça de não ter como se sustentar, ou aos seus filhos e família, tendo que abrir mão dos seus sonhos e a carreira que preferirem.
O quinto desafio é compreender e avançar no resgate da Engenharia como Arte e Cultura, como o saber fazer social que o artista, o projetista, o inventor, o criador elabora com técnica, mas com muita sensibilidade social, com humanidade, com compromisso social e com a natureza, fonte da nossa vida. Por isso, com muito esforço e dedicação de valentes colegas engenheiros e engenheiras, e apoio de algumas empresas e instituições parceiras, estamos também realizando a Exposição de fotos, documentos e maquetes: "A ARTE DA ENGENHARIA DO BRASIL" que permanecerá no Memorial da América Latina do dia 10 ao dia 21 de abril. Exposição e acervo que vamos incorporar com novas obras e que pretendemos levar a todas as escolas, universidades e aos que compreenderem que a ENGENHARIA DO BRASIL é ARTE, é CULTURA, é POP, é CULT, e que sem dúvida é motivo de orgulho nacional.
Estaremos comemorando no 10 de abril - DIA NACIONAL DA ENGENHARIA, contando com os parceiros mais qualificados que poderíamos sonhar. A Fundação Memorial da América Latina que nos brinda com que há de melhor em infraestrutura, apoio humano e acolhimento insuperável, neste belo e simbólico espaço concebido pelo genial Oscar Niemeyer, centro inigualável para exaltar e integrar a América Latina e com a instituição mais relevante da inteligência nacional, a SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que abriu suas portas e apoio para esta conferência, a casa em que,, nós engenheiros, sempre entendemos ser a nossa casa, nosso abrigo e com ela sempre estivemos e estaremos comprometidos.
Mais do que o registro a nossa eterna gratidão ao Paulo Lannes do Memorial e a seu Presidente Pedro Mastrobuono, e à Prof. Mirlene Simões Severo da SBPC e seu presidente Renato Janine Ribeiro. À Ministra e Engenheira Luciana Santos e ao Prof. Sergio Resende - Coordenador da 5A Conferencia de CTI que acolheram com entusiasmo nossa solicitação de realização desta I Conferencia da Engenharia CTI. Todos são para nós lideres e fontes de inspiração.
Serão mais de 50 autoridades nacionais, cientistas, pesquisadores, empreendedores, reitores, painelistas que conhecem profundamente os temas da I Conferência da Engenharia, da Ciência, Tecnologia e Inovação, que não se furtaram a dar sua contribuição neste difícil momento por que passa a Engenharia. Sem a sua contribuição e presença fica incompleta para a nossa contribuição ao debate da 5a. Conferência de CTI da que fazemos parte. Estamos aguardando a sua inscrição, seus artigos, seus vídeos, fotos de obras e realizações, da sua empresa ou instituição. pode fazê-la pelo site oficial engd.org.br.
Todo este material será enviado ao conhecimento público e das autoridades. Esta Coletânea de Contribuições e Propostas será publicada em livro virtual e impresso, escrito com o olhar e argumentos de cada painelista e de cada participante inscrito e que nos envie seus artigos.
Sairemos dela com boas propostas, boas contribuições e já articulando o FORUM DA ENGENHARIA NACIONAL, a ser realizado ainda neste ano. Pretendemos que em 2025 possamos estar realizando, e oficialmente convocada pelo governo federal, a I Conferência da Engenharia do Brasil.
Estes são alguns dos desafios que enfrentaremos para que se aprofunde o debate e lancemos luz aos caminhos que levarão ao resgate e protagonismo da ENGENHARIA DO BRASIL.
Eng. Miguel Manso
Diretor de Políticas Públicas da EngD
Coordenador da I Conferência Nacional Livre DA ENGENHARIA, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Envie seus artigos e propostas para: coord_pol_publicas@engd.org.br
Inscrições, programação e noticias no site: engd.org.br
Miguel Manso é engenheiro eletrônico formado pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP em 1979, fez especialização em telecomunicações na Unicamp e cursa especialização na UFV - Universidade Federal de Viçosa.
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