Os sindicatos e entidades de classe e representação classista são instrumentos limitados para as alternativas de natureza política, não é esse seu papel, a defesa dos direitos das categorias e dos trabalhadores cumprem importante missão, assim como as ações solidárias desenvolvidas entre os trabalhadores para apoiar os desempregados e atingidos pelas mazelas do capital sempre foram legítimas e necessárias.
Também são legítimos os programas assistenciais em todos os níveis de governo, afinal a bandeira do combate a fome que foi a marca de governos democráticos, desde Betinho e as campanhas da CNBB, assim como as ações solidárias das igrejas de todos os credos sempre foram bem vindas. Todas limitadas. Todas sem a capacidade de resolver o problema da distribuição da riqueza e principalmente incapazes de transformar as relações de propriedade que travam o desenvolvimento das forças produtivas. Relações de propriedade que fazem, independentemente da boa ou má fé dos proprietários, com que essas forças produtivas sejam destruídas nas crises do capitalismo e travam objetivamente os avanços civilizatórios, fazendo com que sejam lentos e por vezes secularmente modorrentos.
São portanto as ações que visam mudar as relações de propriedade dos meios de produção que podem destravar as forças produtivas e dar saltos no processo civilizatório.
No caso do Brasil. as relações de propriedade que precisam ser transformadas, são principalmente as subordinadas e de propriedade do grande capital estrangeiro. É muito forte a presença do capital estrangeiro, que avança sobre a nossa economia desprotegida e que exige e promove o desmonte do Estado Nacional, abocanhando terras e concentrando propriedades na agricultura, nas outroras nacionais usinas de açucar e cana, nos portos e aeroportos, no gás e minérios, nas riquezas e reservas naturais, na indústria, no comércio, agora cada vez mais centralizado em plataformas digitais forâneas, no setor financeiro, nos serviços. Avançam sobre nós a décadas, não para desenvolver nosso mercado interno e nossa capacidade produtiva, mas para se apropriar do que puderem e frequentemente para fechar e retirar do mercado empresas nacionais competitivas que ameaçam sua hegemonia. Basta ver a ação das Big Tecs engolfando seus possíveis concorrentes, cujo monopólio privado está sendo questionado pelo próprio Congresso Americano.
Cabe lembrar que mesmo após as grandes transformações ou revoluções sociais progressistas, o combate a miséria absoluta, a fome, as doenças e epidemias alimentadas pela pobreza, as sub moradias, a falta de saneamento, o acesso a àgua limpa e energia, a educação, serão um enorme desafio para estas revoluções. Ainda recentemente a China anunciou que conseguiu, depois de 7 décadas de revolução, retirar da pobreza absoluta 200 milhões de chineses, um Brasil inteiro de miseráveis, uma façanha.
Recente o posicionamento do presidente do SEESP Murilo e sua indignação pela insensibilidade diante da fome e da miséria que se alastra no Brasil, chamou-me muito a atenção. A campanha organizada pelo sindicato conseguiu através de doações de seus sócios e membros apenas 80 cestas básicas para doar a quem precisa. É muito pouco para o tamanho e poder aquisitivo da nossa categoria, muito pouco para o nosso sindicato em SP. Revela a fragilidade em que se encontra o movimento sindical, depois de tantos ataques aos direitos dos trabalhadores e a sua liberdade de organização. Claro que não se pode ignorar erros e desvios e também problemas de muitos dos dirigentes sindicais, principalmente dos que por décadas dividiram o movimento, ou importaram modelos europeus ou americanos de sindicalismo e por ele foram financiados, para isolar as correntes revolucionárias, mais amplas e mais combativas, que cresciam entre os operários e trabalhadores e se fortaleciam em seus sindicatos. A hora é de resistir, de unir, de agregar, na unidade e fazer a diferença com prática diferente, mais comprometida e de fato transformadora.
Creio que a tarefa principal de quem tem consciência e espírito solidário é encontrar e colaborar com as transformações mais qualitativas que o Brasil e o mundo precisam, sem no entanto se opor ou deixar de fazer a sua parte nas ações solidárias ou de natureza assistencial. Mesmo depois da conquista de um governo progressista essa tarefa vai continuar colocada, talvez por décadas. Transformar o assistencialismo em política ou bandeira transformadora é para demagogos e manipuladores da miséria humana, seja na "direita" seja na "esquerda". Mas toda ação qualitativa de transformação social não pode deixar de assumir as campanhas e ações solidárias.
O nosso movimento Engenharia pela Democracia está inserido nesse debate, e mais do que isso, na realidade concreta de um país rico e profundamente desigual, com um futuro radiante pela frente e com graves cicatrizes e vícios, mas que é principalmente cobiçado, ideologicamente e economicamente disputado pelos centros hegemônicos do grande capital mundial. Disputado na política, na cultura, na economia e no movimento sindical ou associativo com visões sectárias, pseudo revolucionárias, anarquistas ou divisionistas, que em nome dos trabalhadores isola os trabalhadores das alianças necessárias a sua luta pela emancipação, seja no terreno sindical, seja no terreno político.
Imensa é a nossa tarefa. Que sejamos capazes de construir, com amplitude, profundidade, serenidade, diálogo e compromisso com as transformações civilizatórias, as transformações que promovem saltos em nossa capacidade material e espiritual, mas que vivamos, ao mesmo tempo, as dificuldades cotidianas do nosso povo, entranhado com o povo, sem dele se distanciar, vivendo com ele suas angustias e buscando avançar na consciência e na sua organização e ao mesmo tempo lutando para retirar dos escombros, da tragédia, do genocídio e do bombardeio a que estamos submetidos, os que ainda podem ser salvos dos ataques da ganância sem limites e de suas campanhas de desinformação, mentiras e propósitos de debilitar nossa união e enfraquecer a democracia e nossa soberania nacional, vamos retirar da luta nossa energia para sobrevier ao ápice da barbárie e da desumanidade em que querem nos afogar.
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